O meu nome é Manuela Julien; sou terapeuta da linguagem, linguista clínica e professora de língua (Português, a minha língua materna).
Depois de ter feito o curso de formação de professores (UEM, Maputo, Moçambique) fiz uma licenciatura em linguística aplicada (SIU, Carbondale, IL., USA) seguida por um mestrado em neurolinguística (VUB, Bruxelas, Bélgica) e um doutoramento em aquisição do Neerlandês como língua adicional por adultos e crianças com e sem distúrbios da linguagem (Universidade Radboud, Nijmegen, Holanda).
Trabalhei mais que vinte anos como linguista clínica em centros para diagnóstico de problemas de audição e desenvolvimento da fala e da linguagem. Nestes centros os exames diagnósticos são feitos por equipas multidisciplinares que em geral consistem de audiólogos, assistentes de audiologia, terapeutas da fala, linguistas clínicos, psicólogos e assistentes sociais.

Na minha empresa ‘Clínica Babilónica’ dou aulas sobre distúrbios da linguagem, faço consultorias por exemplo a escolas e a funcionários de bibliotecas e municípios. Também ofereço workshops sobre aprendizagem e distúrbios da linguagem a pais, escolas e terapeutas da fala tanto na Holanda como no exterior (Bélgica e Antilhas Holandesas).
Estes são uns exemplos de atividades que tenho desenvolvido nos últimos anos.
Em 2008 escrevi um livro sobre diagnostico e terapia de problemas no desenvolvimento da linguagem em crianças multilingues. O livro é usado em vários cursos de formação de terapeutas da fala e da linguagem. Veja o site (em Holandês) do Editor Pearson.

Em 2012 escrevi uma proposta de um currículo para um curso de licenciatura na área da Terapia da Linguagem e da Fala a ser criado pelo ISCTEM (Instituto Superior de Ciência e Tecnologia de Moçambique) em Maputo, Moçambique.
Em 2017 e em 2022 estive em visita de trabalho nas ilhas de Aruba e Curaçau. A minha tarefa durante aquelas visitas foi de transmitir conhecimentos recentes nos campos dos distúrbios da linguagem e fala e do multilinguismo. Isto aconteceu em forma de workshops e palestras a profissionais de diferentes disciplinas, incluindo médicos, enfermeiros, terapeutas da linguagem, outros terapeutas e professores; acompanhar e observar terapeutas da linguagem e fala nas suas visitas escolares e nas sessões de terapia a algumas crianças. A estas sessões de terapia seguia-se uma discussão conjunta sobre abordagens no diagnóstico e terapia de crianças com deficiências na audição e na linguagem.
A avaliação destas visitas de trabalho, pelos participantes e organizadores, foi bastante positiva. Esta mensagem escrita por um dos participantes dos workshops, dá-me o sentimento de tarefa cumprida:
“Aprendi a olhar de maneira diferente para crianças falantes de outras línguas. Temos árabes, chineses e também haitianos na escola e eu não conheço as línguas deles, mas agora já não me sinto intimidada ao trabalhar com essas crianças. Isso era o que acontecia antes do workshop”.
A missão que me propus nos últimos muitos anos é a de consciencializar a sociedade e em particular pais, professores e terapeutas da linguagem a respeitar e valorizar o multilinguismo das nossas crianças; a parar de tratar as crianças multilingues como se fossem monolingues e a parar de fazer diagnósticos só na base do domínio da língua da escola, que para uma grande parte das crianças é uma língua segunda.
Quando crianças multilingues têm dificuldade em desenvolver a linguagem – o que acontece também com crianças monolingues pois o multilinguismo em si não é a causa de problemas no desenvolvimento da linguagem – muita gente se pergunta se isto não será negativo. Esta é uma questão que é posta não apenas por leigos, mas também por profissionais.
O propósito da Clínica Babilónica é fazer a ponte entre a informação científica disponível e situações práticas com as quais profissionais, como por exemplo professores, terapeutas da linguagem e linguistas clínicos são confrontados no dia a dia. Por experiência própria sei que não é fácil aplicar a informação teórica no complexo trabalho diário de diagnóstico e de tratamento de crianças multilingues com distúrbios de linguagem.